13.11.05

Papai noel, sofás e pequenos morrinhos ao entardecer

Papai Noel chegou! Pelo menos aqui no shopping perto da minha casa. E lá fomos nós ver a turma do didi e a chegada do bom velhinho. A Claudia foi na frente com os três e eu fui depois. Estacionamento cheio, sol quente entrecortado por nuvens apropriadas que nublavam um pouco o tempo. Muita gente. Eu cheguei, já estava no final do show e logo apontou no céu o helicóptero do Noel. Quando vi uma roupa vermelha lá dentro, fazendo a curva sobre o estacionamento, num descuido das maduras funções cognitivas que tomam conta de meu viver, acreditei que era ele mesmo e até pedi meu ipod nano de 2 giga. Os olhos da filharada brilhando em ver o didi (mais ou menos) de perto e o papai noel chegando a jato pelos céus, trazendo um natal de felicidades.
Depois saímos todos em bando para almoçar no shopping. Filas imensas até para subir as escadas rolantes e uma ameaça de mau humor começando a rondar aquelas tais funções cognitivas que citei anteriormente. Passamos pelos enfeites do sítio do picapau amarelo e fiquei maravilhado com as jabuticabeiras de bolas de natal. Uma parte da turma foi para as lojas e eu, a patroa e as crianças, fomos fazer as duas coisas que, atualmente, mais gostamos de fazer no ribeirão shopping. Uma delas é, quando estamos sem crianças, sentar naqueles sofás de couro confortáveis e, escutando o murmúrio da turba e das águas das fontinhas ficarem cada vez mais longes, tirar uma sonequinha de leve. Pois é, tem casais que gostam de transar em lugares públicos, já eu e a Claudia estamos inaugurando uma nova modalidade de fetiche: dormir em público! É muito bom, o mundo continua lá, mas vai ficando longe, no seu devido lugar, enquanto seu corpo descansa e sua alma voa.
Quando estamos com as crianças, dormir fica muito difícil e, então, nós dois partimos para outra atividade que também adoramos fazer, sentados nos sofás. Os ingleses vão para as estações de trens praticar seu trainspotting. Nós, não. Nós sentamos e praticamos o barangaspotting. Atividade que consiste em ficar observando as mulheres com roupas inapropriadas desfilando pelos corredores. Aquelas com aqueles colants cor de pele, com pernas bem gordas e mini-blusas frente única espremendo pneus e peitos para o espaço exterior e formando aqueles decotes de passar cartão. É, eu sei, o inferno são os outros, só que, no caso, assim como era para nicole kidman naquele filme, nós somos os outros!
Fico na dúvida, não sobre o fim da humanidade, mas se ela vai acabar por conta do aquecimento global ou por isso que vejo passar ao meu redor. Enjoados do exercício de barangaspotting, cheios de salgados e lanches do mac, voltamos para casa para tirar uma soneca mais consistente.
No final da tarde, ainda vamos parar no parque ecológico perto de casa. Lá, deitados sobre uma micro-colina, sentimos a grama um pouco menos que úmida sob nós. Sinto o vento fresco do imenso fim de dia e a luz do sol quentinho e amarelo. Se abro os olhos, tenho o azul e uma pálida lua à minha frente. As crianças brincam de correr para cima e para baixo. A Claudia está sentada e eu, deitado, pensando que poderíamos ser usados pelos impressionistas, sem dó e nem piedade, para experimentos de cores primárias, secundárias e terciárias. Às vezes, quando o sistema cognitivo supracitado baixa a guarda, ondas do massacre da serra elétrica desligada da semana passada ainda insistem em me atingir. Algumas músicas vêm ao meu encontro, escuto a Kate Bush cantando runnin up the hill e o mike oldfield, ao piano, com trechos de hergest ride. Tudo isso vem pelos fones do ipod imaginário que ganhei, naquele outro momento de descuido das funções superiores, do bom velhinho. Algo em mim carrega um pouco de nostalgia e tristeza pelo passado e, talvez, pelo futuro, como se o dia tivesse passado através de um mostruário de possíveis habitats variados: Ver papai noel no céu, dormir no shopping, descansar sobre morrinhos ao ar livre.
Enquanto caminho perto do lago artificial, uma outra música ainda me vem a cabeça, já que meu mp3 player imaginário continua na função shuffle. Você é linda, mais que demais! Não sei se é a Claudia, não sei se foi uma época, não sei se é a vida. Só sei que essa canção é só para dizer, e diz!

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