3.10.09

Natal em Setembro

Ontem, quase no fim de setembro, apareço no Carrefour para comprar batata palha para um strogonoff e vejo, formando pilhas entre os corredores principais do supermercado, centenas de panetones, dos mais diversos sabores e marcas. Quase levo um choque. Primeiro, fico meio desmagnetizado e penso que são sobras da Páscoa. Depois, lembro que na Páscoa, são as colombas que habitam as prateleiras. Digo, Meu Deus, o Natal está aí de novo! Quase deprimo com a rapidez com que o tempo passa. Só não deprimo porque, por outro lado, adoro Natal.
Supermercados, com iPod, são momentos maravilhosos para se pensar na existência humana e na infinidade do cosmos. Assim, eu começo a fazer isso. Será que o mundo voa mais rápido, hoje em dia? Será mesmo que o tempo acelera em direção ao futuro?
No começo, o tempo era cíclico. O homem olhava a natureza, as estações, o plantar e o colher, o dia e a noite, o nascimento e a morte e, através disso tudo, percebia o fluir do ir e vir de Cronos. As religiões pagãs cultuavam esse aspecto cíclico do tempo, das sagrações de primaveras, sacrifícios por boas colheitas e das danças circulares ao redor do fogo. Por mais incrível que pareça, foi o cristianismo que iniciou o tempo histórico. O tempo em que o passado (Gêneses) era causa do presente (Chegada de Cristo) que, por sua vez, era o prenúncio do futuro (Juízo Final). É com o cristianismo que o tempo perde sua ligação com a natureza e se torna tempo-história do homem.
Eu já tinha dito que supermercados, com iPod, são excelentes lugares para se viajar. Por isso, volto a pensar nos panetones em setembro, nos ovos de chocolate logo depois do carnaval, na globeleza que samba e amamenta o pequeno ano que acabou de nascer. E em tudo mais que, durante o ano, mal acaba de ser e já era.
Penso que o que acelera o tempo, hoje em dia, são todas as datas que comemoramos, que o comércio insiste em interligar, abreviando os espaços entre elas. Aproximando-as, através da oferta antecipada de seus produtos típicos.
Bem-vindos então, ao neopaganismo! Bem-vindos à nova era do tempo cíclico. Tempo de plantar e de colher pães doces de frutas cristalizadas, temporões e anunciantes que são, já agora em setembro, da nova safra do Natal e do eterno ir e vir das estações. Agora, finalmente, patrocinadas.

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