4.10.05

Algumas músicas me fazem chorar

Músicas me emocionam. Algumas (muitas) me fazem chorar. Quando as primeiras notas da melodia do tema do Era uma vez na América invadem meus ouvidos, me lembro da cara do De Niro sorvendo uma última dose de ópio, semi sorrindo um valeu a pena, apesar de tudo, e começo a ganir.A voz de Fred Astaire achando estar no céu, só porque dança de rostinho colado, enquanto Ralph Fienes carrega a amada morta na garoupa do avião, transformam meus olhos em fontes de líquido e sal. Memória, para mim, tem que ter trilha sonora. Imagem e música juntas, num clipe emocional deitado sobre sinapses.Uma vez, em Kopenhagen, chegando na Renner de lá, tocava uma música que, depois eu fui conferir na sessão de cds, era uma dos musicais de Andrew Lloyd Webber, "tell me on a sunday". Enquanto descia as escadas rolantes, a música se espalhava pela loja. As roupas todas lá, quietinhas em seus lugares, esperando serem compradas, todas em tons cítricos desbotados, cores fluorescentes lavadas em sabões com alvejantes à base de cloro. Acid washed moletons. Tudo novo para mim, a loja, a cidade, a música, as cores das roupas. Tudo acoplado num clipe único de emoções, tons de cores e sons saídos da orquestra e da boca da cantora (não, não era a Sarah Brigthman). Clic, pronto, la estava um instantâneo eternizado. Clic, love is in the air, o cd é engolfado pela boca do player da cherokee da coreana que nos leva para o aeroporto, junto com o namorado brasileiro. O céu está estupidamente azul, o frio se foi e até dá para sair ao relento só com uma camiseta. Mesmo assim, riscos de falsas nuvens cruzam os céus, deixados pelos jatos, para lá e para cá. Eu olho para a Claudia e ela também está chorando. Love is in the air, yet. Já tenho saudades do cheiro do supermercado e do galão de suco de cidra. Washington D.C., que foi nosso lar por umas semanas, está indo embora. Começa uma valsinha, do mesmo cd, que não posso nem lembrar para não molhar o teclado, agora.
Outro dia, comprei a adriana "partimpim" calcanhoto só por conta, por enquanto, da música do arnaldo antunes, "saiba". Como ela bem diz no encarte, uma canção para ninar adultos. Tenho surtos de choro quando escuto. Ontem, foi um vexame! Acordei, fui até a sala e coloquei direto na faixa. Após alguns segundos já escorria soro fisiológico dos meus olhos. As crianças diziam "olha, olha, o papai está chorando!" A mãe passava roupas e não disse nada para não piorar ainda mais aquele meu momento íntimo, porém coletivo.
Saiba: todo mundo teve infância. Maomé já foi criança. Saiba: todo mundo teve pai. Quem já foi e quem ainda vai.

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