2.4.07

O ano passado em Mongaguá

Em janeiro passado, levamos as crianças para ver o mar pela primeira vez. Igual aos festejos do ano novo chinês, incrustamos uma semana de praia no meio do antes e do depois.
Eu sou uma pessoa que sofre de TPV (Tensão Pré-Viajal) e, por isso, fico irritado, mal-humorado e sempre acho que o mundo vai terminar antes do início da viagem. Combine todos esses sentimentos gostosos a elementos de uma realidade em que chovia demais e um buraco do metrô engoliu uma van recheada de pessoas em sampa e vocês terão uma pequena amostra de minha atormentada psiquê, envolta nas ondas da TPV.
Chegamos no domingo à tarde, eu, a claudia, os tri e meu irmão, o dia estava limpo e o Joca, quando viu o mar, queria descer do carro em movimento para ir para a água. Foi uma semana boa, muita coisa estava para acontecer no ano que viria, mas, naquela semana, só o que importava era estar lá. Levamos as crianças ao aquário, onde o polvo fez o maior sucesso.
Quer coisa melhor que atravessar a rua, sentar numa cadeira e esperar o movimento começar? Andar pela areia, ver a turba a sua volta, perceber que agora, com trigêmeos, água, protetor solar 35, bandeja de batata fritas na mesa debaixo do guarda sol, você é a farofa!
Nos dias de muito tédio do azul e do vento, enfrentávamos um shopping básico com ar condicionado e gente de shopping, lojas americanas e comida fast de shopping (e não de praia).
Antes do almoço, era só atravessar a rua para voltar para casa, lavar os pés no chuveiro da entrada para tirar a areia nojenta dos pés/chinelo, tomar banho morninho e passar leite de aveia davene para cheirar praia.
Almoçar por quilo ou em casa. Teve um dia que fiz torradas V de vingança, aquela que faz um buraco no meio do pão de forma, coloca manteiga na frigideira e quebra um ovo no buraco. Fica uma torrada amanteigada com um ovo frito incrustado. Depois deitar na cama e chorar com as pipas do caçador. Passear na feirinha, cheirando aveia, e tomar sorvete. Quem sabe ainda, voltar no finalzinho da tarde para caminhar pela praia. Nos primeiros dias, faziamos revezamento 3 X 3 para ficar com os incansáveis trigêmeos no mar, já que nem queriam saber da areia.
Hoje, consigo entender porque uma praia em janeiro significa tanto para todos. É como se o Hiro (do Heroes) parasse o tempo e tudo ficasse para trás e para frente, em pausa. Na mira de seus olhos só o mar azul, areia branca, picolés de fruta, peixinhos fritos, água de coco e cheiro de protetor solar, só isso. Todo o futuro (e o passado), por mais que você se esforce, fica afastado daquele momento, soprado pelo vento, carregado pelas ondas para longe. E essa pausa, essa bolha de paz é tão forte que é para lá que nós ajustamos nossos controles toda vez que o ano, agora semi-novo, ameaça fazer do nosso dia a dia, um pequeno inferno.
E sempre resgatamos, na mente, a imagem fresca e slow da praia cheia e farofenta do janeiro que passou. E mesmo com todos os distúrbios, a canseira com os mil alunos, as mudanças de escola e empregada, a incerteza de que tudo, tudo, tudo mesmo vai dar pé, é para lá que sempre vamos nos sonhos noturnos ou acordados.
E é hoje, aqui e agora, que apreciamos ainda mais, o momento parado no tempo que ficou para trás. Tão para trás, que já parece que foi o ano passado, em Mongaguá.

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