14.9.09

Me Diga num Domingo

Quando duas coisas novas acontecem em sua vida, ao mesmo tempo, elas fatalmente ficarão linkadas para todo o sempre. Foi assim, com a receita de pão preto alemão, amoras, creme de leite batido e pedaços de chocolate meio amargo, que experimentei pela primeira vez, enquanto meu pai agonizava na UTI do hospital, também pela primeira vez. Essas memórias são grudadas para sempre pela cola de sensações e emoções. Músicas também fazem muito isso, grudam nos momentos e os ajudam a ficarem, para sempre, em nossas cabeças.
Há vinte anos, entramos em uma loja de departamentos em Copenhague, eu e a Mazé, passeando pela cidade da maneira mais econômica possível. Era uma loja bem no estilo da finada Mesbla. Era um verão da moda acid house, das cores cítricas e das carinhas do Smile.
Nunca tinha estado em Copenhague, nunca tinha estado naquela loja. Quando desço as escadas rolantes, escuto “Tell me on a Sunday” saindo pelos alto-falantes da loja. Olho para baixo e vejo um mar de roupinhas dobradas, de moletons cítricos deitados em seus suportes, dormindo, esperando para serem experimentados, comprados e levados para longe, por alguém.
Todas aquelas cores fluorescentes, lavadas, descansando até serem ativadas em uma balada noturna qualquer. E a voz feminina cantando a música de Andrew Lloyd Webber que nunca tinha ouvido antes, também. Tudo junto forma um clipe em minha cabeça que quase choro.
Memórias sendo formadas no ato, pela emoção banal de juntar um lugar de compras, uma música e uma visão-descida-travelling pela escada a olhar a paisagem de cores fortes, porém lavadas, como nos antigos murais que perderam o viço pela poeira dos tempos.
O que tiver que me dizer, me diga num domingo, como diz a letra da música. Num domingo qualquer, como este em que consegui voltar a escrever.

2 comentários:

sandra disse...

bom retorno! Estava esperando por este momento
abçs

Santa Insolência disse...

Cleido,
Ainda bem que vc voltou a escrever, pq não quero enlouquecer sozinha! hehehehehehehe!