22.12.09

Caos-Natal

Sou triste, quase um bicho triste e brilhas mesmo assim*.

Esse, eu acho, será o Natal que vou passar mais duro. Espero que o mais sem dinheiro que eu atinja, seja isso. Porque ainda assim, o básico classe média estará lá, na mesa, na árvore, no shopping e nos amigos secretos. Esse, talvez seja o final de ano mais desconfortável que eu passarei em anos. O final da escola de meus filhos foi de um jeito péssimo, por conta de um maior desconto de mensalidades. Tomei contato, de forma chocante, com a lógica perversa das mantenedoras e seus limites máximos de desconto. Então, que pelo menos eu tenha saído do barco, um pouco antes dela se afundar nas águas turvas dos esgotos das construções vizinhas. A mágoa é uma energia.
Terminei minha faculdade de arte e, na monografia, apareceu uma tonta, na banca, que queria mostrar serviço em cima de mim. Sabe aquelas moças novas, formadas em design, com carranca arrogante a esconder uma falta de conteúdo abaixo da epiderme? Não bastasse isso e meu amigo (sob reavaliação) perde os colhões e não me defende. Não dou mais conta, tenho 50 anos e o mundo me cansou um pouco nesse final. Enjoei de servir de alvo para formigas amedrontadas com minha sombra e pela sombra junguiana delas mesmas.
É natal. Mas até o panetone trufado da Cacau Show (coisa de pobre, eu sei) eu não consegui comprar porque acabou. Entrei de férias, hoje. Depois de semanas de múltiplas coisas para fazer, era para bater aquele vazio existencial, que aparece sempre depois que você passa muito tempo na correria. Ele veio, na verdade, como um copo vazio. E é sempre bom lembrar que um copo vazio pode estar cheio de ar(es da mediocridade). Putz, é natal e eu não tô no clima. Só não saio por aí com uma navalha, porque deve dar um trabalho imenso se livrar dos corpos.
Apesar disso, minha árvore ficou bela, com tsurus a voar, gentilmente cedidos pela Rita. Apesar disso tudo, tenho vontade de comer rabanadas e sair pro shopping para olhar aquilo que poderia ter, se isso resolvesse meus problemas.
É natal e o caos reina! O Nicolau, muito sensível, capta esse espírito no ar, de caos-natal e se transforma no menino-capeta. Graças aos céus, num momento de maturidade suprema, conseguimos perceber que é isso que acontece e revertemos a situação, explicando tudo para ele. Ele fica triste, nós estamos tristes, mas a brisa fresca das manhãs volta a ser uma promessa.
É um estranho natal crepuscular, onde eles sabem que papai Noel não existe, mas ainda não querem arriscar. Óbvio que a exceção é o Joca, para quem não só o Noel existe como também o coelho da páscoa, o homem aranha, os hobitts e a Liga da Justiça. A razão invade o domínio da infância e ocupa o lugar das lendas, dos mitos e das luzes. É o fim da infância. Mesmo assim, o Nicolau me diz que vai dormir no sofá, perto da árvore, para surpreender o bom velhinho. Ele ainda tem dúvidas. E eu percebo que eu também tenho, e que elas caem como açúcar fino de confeiteiro sobre as rabanadas que insistem em povoar e a se intrometer nas minhas desesperanças (quase) certas de que tudo vai melhorar.

Eu sou um homem tão sozinho, mas brilhas no que sou. E o meu caminho e o seu caminho, é um nem vais nem vou*.
*Caetano Veloso.

2 comentários:

gil disse...

entao... uma hora que eu for pra ribeirao, queria conhecer suas coisas, seus quadros, desenhos...o valnei, o nilton, o gabriel me falam sempre e tal. até, gil.

estou em QAP disse...

Cleido, eu não tinha lido este texto. Muito bonito e triste.
beijos, sandra