Ao contrário do menino do Sexto Sentido, eu não vejo pessoas mortas e nem escuto. Meu pai foi o único que vi. Demorei muito para voltar a escutar a Elis, depois que ela morreu. Com a Cássia Eller, ainda nem voltei. Mamonas então, nem pensar. Não consigo, fico pensando que morreram e esqueço a música. Dead people que já conheci mortas, como Billie Holiday, não tenho nenhum problema. O negócio é presenciar a passagem delas, geralmente no auge da carreira, e ficar conectando possibilidades futuras, que foram interrompidas. Meus CDs do Michael só não terão destino semelhante, porque os filhos descobriram o cantor, junto com sua morte.
Esta semana, a Leila Lopes morreu. Suicídios em geral são mais chocantes. Me choca profundamente saber que alguém acabou com a própria vida, vida essa tão cara para nós, os não suicidas. Mas, o mais chocante nessa história é a exposição. Fico pensando nela, nos filmes pornôs que fez, que eu não vi, e agora nem vou ver. Porque não vejo pessoas mortas.
Fico pensando que deve ter aumentado a procura pelos vídeos. Mas, imagino-a lá, exposta no que mais íntimo podemos fazer, mesmo que em encenação. Suas partes, nunca iluminadas pelo sol, expostas à luz forte dos refletores. O que é ter uma alma atormentada perto disso? Porque só as almas torturadas podem se matar, para aliviar a dor.
Ela lá na tela, simulando prazeres imensuráveis, invadida em suas reentrâncias por protuberâncias orgânicas e lentes fálicas. Corpo cuidado, pele cuidada, perfeito. Na tela, a imagem; na terra, o corpo que eu imagino, agora, em decomposição. Mais pós-moderno, impossível. Imagina viva de uma exposição íntima. Duas verdades. São tantas as verdades. Simulacros. Bela Leila gemendo de prazer na tela e de dor psicológica na cama, prestes a morrer, como os ratos. Todo mundo vendo. Menos eu, porque não vejo pessoas mortas. Mas imagino.
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22.12.09
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