domingo à tarde, dia de circo com a filharada. Logo de manhã, já estou com uma certa parcela de mau humor por conta do futuro que me aguarda. Vamos almoçar na casa da avó (minha mãe) e terei que ser privado da parte que mais gosto: passar a tarde inteira falando de
filmes, política e mal dos outros, sentados à mesa, que já teve várias comidas sobre ela, e agora tem sobremesas, tomando café descafeinado) e coca cola de litros. No meio do almoço, fico sabendo que o espetáculo tem duas horas e pouco de duração, cogito o suícidio
coletivo mas acho a alternativa muito forte. Nunca gostei muito de circo, nunca fui pego pela eterna magia dele, nem dos modernos du
soleil. Lembro que na infância, nos que eu ia lá em Tambaú, morria de medo dos palhaços e seus traques e tiros de espoleta. Sim, sim, tenho preguiça de palhaços, crowns e derivados do álcool em geral. Para mim, palhaço bom é o que ficava em baixo da cama do molequinho do
poltergeist, alguém aí se lembra?
Mas tudo bem, prometemos pros filhos, eles fizeram bagunça na véspera, nos desprometemos, falamos que não iriramos mais e acabamos
indo. Tudo como NÃO manda o Manual Sócio-Construtivista Pedagógico dos Pais Modernos e Esclarecidos que não têm Culpa e estão num Processo Muito Bonito de Construção de um Mundo Baseado no Afeto (Franchi, R. & Canato, C.; EDUSP, 2004) e fomos (quase)todos felizes em direção ao fantástico mundo de Beto Carreiro.
NO caminho, aquela pregação básica sobre a necessidade de escolher apenas UM brinquedinho no meio da chuva de "olha a bolinha que acende, a pipoca que pula, a chapéu que late e a foto de familia no chaveirinho", que muita criança no cazaqusitão do norte não tem nem uma bolinha para brincar. Pensem bem, só para entrar e sentar na lateral, lá se foram 41 reais... Passa no walmart antes, fecha os olhos quando passa perto do douradão, e compra 3 saquinhos de batata e refri e coloca na bolsa. Sim, sim, farofeiros sim, mas com pós doutoramento, consciência ecológica e noção de eco-nomia
auto-sustentável.
Tava bem quente lá dentro, enquanto esperamos, uma revoada de palhaços vendedores sobrevoam os pobres espectadores indefesos. Acomodados, esperamos o início do show. O apresentador anuncia a primeira atração. A música fica alta e o Joca ameaça surtar porque não gosta de muito barulho. O calor, o surto iminente (ou seria eminente? sempre estudo isso, parônimos?, nos concursos e sempre esqueço depois), a fanta mix quente na minha bolsa, os bonequinhos do
yugi-ho que o Joca perdeu, quer dizer, eu guardei no bolso sem perceber, os gatinhos amestrados, os palhaços e, e, e.. Elisabeth
Daiana, a contorcionista em trajes mínimos que, como uma cara de isso não vai dar certo hoje, se dobra e redobra e se dependura pelo maxilar parecendo uma minhoca tentando se livrar do anzol. Nessa hora, penso que se o Kama Sutra tivesse sido escrito num país de contorcionistas, ele teria pelo menos uns quatro volumes. Começo a achar que também não é assim, tão chato, um betinho carreiro básico
num domigão abafado de ribeirão.
Lá vem cavalos, chicotes, trapezistas, dançarinas da bróduei, tigres brancos da Ásia. Por que será que todo apresentador tem que falar com sotaque castelhano?
Uma coisa legal é reparar em apenas uma pessoa, quando o show é coletivo. Você perde a noção de conjunto mas ganha em caras e expressões inesperadas no meio do conjunto plástico. Teve uns malabaristas morenos afro-indios-exoticos chamados os leopardos. De repente, lá no meio deles, você avista um loirinho com cara de "eu
era caixa do Unibanco mas fugi com o circo" É diversão extra garantida
O apogeu do espetáculo foi o globo da morte, aquele das motocicletas. Quando eu era pequeno ficava impressionado com a morte rondando o
globo mortal. Hoje, com 45 anos... continuei bem impressionado com a morte rondando o globo mortal. Além do que, o famigerado globo ficou
bem menor do que era em minhas lembranças. Uáuuu! que mêda!
Foi um domingo de superação de limites. A Claudia até conseguiu levar a Sofia num daqueles cocôzódromos portáteis da silvaninha. Levamos a ninhada ao circo, sobrevivemos,tornamo-nos seres humanos melhores, mais pertos da luz! Tá bão, tá bão, também não precisa exagerar!!!!!
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Um comentário:
Pura verdade, Cleido! Gostei muito da contorcionista com cara de que isso não vai dar certo... Você assistiu os "Clowns" do Fellini? É um dos filmes mais maravilhosos que já vi --ele tinha medo de palhaço também. Aqui ficamos: entre a vanguarda paulistana e o consumismo completo, em plena classe média... Um abraço do Marcelo Coelho
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