20.12.04

Porque estar vivo é ser mortal

(julho de 2004)
Li outro dia, num livro, alguma coisa que dizia que o fato de sabermos que vamos morrer... um dia, nos faz mortais. Por isso, ser mortal não é morrer mas saber que vai morrer. E é essa consciência que nos faz humanos. E é essa idéia antecipada, imutável, forte e inexorável do nosso fim, que se projeta e bate em nosso próprio fim e ricocheteia de novo em direção a nossa vida, tornando-a fervilhante, temperada, borbulhante, urgente, ou seja: VIVA! "Se a morte não existisse, haveria muito o que ver e muito tempo para vê-lo, mas muito pouco o que fazer (...) e nada em que pensar." Viver mortalmente é como alugar um dvd cheio de extras, no máximo conseguimos ver o filme e um pedaço do making of, porque logo temos que devolvê-lo para a locadora. Nunca dá tempo de ver tudo. Alguém já comprou algum dvd e assistiu inteiro? Pois é, quando compramos, temos todo o tempo do mundo e por isso sempre deixamos para depois, para amanhã, para depois de amanhã... Ter noção da imortalidade deve ser, então, algo tão aborrecidamente chato quanto ter um dvd inteirinho cheio de extras para se deliciar e, ao mesmo tempo, sempre deixar para se deliciar depois... E, com isso, passar a ter prazer em apenas sentir que se tem todo o tempo para se deleitar, mas nunca se deleitar, necessariamente. "Alguns dizem que os deuses imortais existem e outros, que eles não existem, mas ninguém diz que eles estão vivos."
Estar vivo é ser mortal.

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