22.3.05
Por que guardamos as coisas - parte I
Colecionar coisas sempre esteve presente em minha vida. Figurinhas, cromos coloridos colados com goma. Marcas de cigarros, bolinhas de gude, tampinhas de garrafas, selos, gibis, lps, action figures e (principalmente) toneladas de cds. Sempre que eu penso em por que guardamos as coisas, por que juntamos móveis antigos a outros moderninhos da tok stok pela casa, me lembro da pequena árvore do jardim de minha infância, onde apareceriam casulos de pré-borboletas feitos de fios de seda e pedacinhos de gravetos. Eram construções tecidas ao redor do corpo larval de uma maneira caoticamente simétrica. Pedacinhos de gravetos e linha. Pedacinhos de ordem.Por que guardamos as coisas? Por que guardamos sentimentos, emoções, memórias, cheiros, aromas, gostos, palavras, sons?Acho que guardar coisas é ordenar pedacinhos do caos que insistem em viver ao nosso redor. É cristalizar momentos fugazes e torná-los cicatrizes, adornos de nosso entorno, tatuagens contadoras de histórias como aquelas que cobriam o corpo do homem tatuado do livro do Bradbury. Acho que guardar coisas é estender nosso corpo e criar uma zona de interface entre nós e o mundo. Criar um ambiente amigável entre nós e o que não é nós. Uma sala de estar onde possamos nos encontrar, onde todos possamos conversar e (tentar) se entender. Onde possamos estender nossos limites para um pouco além, para (quase) tocar o outro e tornar viável esse contato.Por que guardamos as coisas? Acho que para construir uma casca-além-pele viva, histórica e mediadora entre nossa vida e todas as outras vidas que vivem juntas conosco.
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