10.6.05
Índios S.A.
Em comemoração ao dia 19 de abril, vou fazer uma revelação: Tenho uma preguiça imensa de índios. Talvez tenha sido algum trauma de infância, já que o vizinho, dono do "forte apache" sempre era o mocinho e, sobrava para mim, ser os indios e morrer dizimado no final. Vamos consertar um pouco minha primeira afirmação para aplacar a revolta dos leitores. Na verdade o que eu tenho preguiça é desse discurso de os índios sim é que sabem viver, nao poluem os rios, nao acumulam riquezas e etc. etc. etc.Outro dia fui numa reunião de pais da escolinha de meus filhos e ouvi que eles estão trabalhando essa temática indígena, essa diferença de cultura. Nada contra mostrar as diferenças culturais. Acho que faz um bem danado para as crianças monoculturadas. Viva a biodiversidade! O que eu nao dou conta é do discurso da vidinha correta que eles têm, de como são ecologicamente corretos, que só plantam e colhem e retiram o que vão usar... É tudo muito lindo, mas quem aí se arrisca a largar nosso mundo de desperdícios, de computadores, livros, cds e lajotinhas da kopenhagen e voltar a pescar nos rios e correr pelado pelas florestas com os países baixos balançando ao vento ateu? Que atire a primeira tapioca quem topar esse retorno a vida gostosa do bom selvagem do Rosseau. Fico olhando para a cara dos pais na reunião da escola e nao consigo soterrar meu pensamentos irônicos. O livro que adotaram para mostrar a vida dos índios deve ter sido escrito pelo primo tupi do leopoldo paulino. O livro fala do invasor branco que arrancou as terras dos índios. Alô? Alô? Nós somos os invasores brancos! Nós arracamos eles da terra deles e pegamos as árvores para fazer móveis moderninhos e depois comprarmos na tok stok, na liquidação de verão (em 3x no cartão). Nós é que falimos com o nosso sistema de ensino público e colocamos nossos filhinhos lindos nas escolas particulares e agora ficamos culpados de estarmos assim, como eu posso dizer, tão isolados de Gaia, a Terra-mãe viva. Não foram eles, os homens brancos (também conhecidos como politicos, educadores, filósofos, padres, economistas, formadores de opinião e etc.) que destruiram tudo. NÓS SOMOS OS HOMENS BRANCOS. Nós sustentamos tudo. Nós, os homens (e mulheres para ser pc)comuns somos os pilares sobre os quais se sustenta o poder branco destruidor. Não adianta culpar ninguém nem tirar o final do sistema digestório da reta. Os índios são os outros, nós somos os uns. Daí que tem uns índios que vêm lá do xingu (eu acho) e acampam aqui perto, numa fazenda e constróem uma oca (que nessa altura já deve ser pré-montada e de madeira tratada contra cupim). E toda a massa-nóis-culpada-que-acha-que-não-é-aquela-que-fudeu-com-os-índios vai lá para se encantar com a vidinha lúdica que eles levam no meio do mato, caçando e pescando somente o que precisam para viver. E nossos filhos vão lá e compram colarzinhos artesanais e ficam maravilhados com o diferente e até podemos achar que não fazemos parte do bando de brancos que destruíram tudo. E os Índios S.A. vêm para cá levantar uma graninha para se sustentar, arrancando umas migalhas da parte consciente da classe média branca que acha que não tem nada a ver com isso. E eles devem rir muito, invertendo os papéis e vendendo suas quinquilharias de palha e semente para os descendentes dos colonizadores que um dia chegaram nas aldeias com suas bugigangas, espelhos e bijouxs e trocaram tudo pelo ouro que tinha lá. então tá,cleidops.
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