Eu sou um professor louco. Não tenho como negar. Meus alunos acham isso e eu também acabei me convencendo. Na verdade, os motivos e fatos que os levaram a essa conclusão são diferentes dos que me fizeram concluir coisa semelhante. Eles acham que sou louco porque babo de escorrer (de vez em quando) só para chocá-los e porque toco flauta doce com o nariz. Já para mim, ser um professor louco significa não ter a mínima idéia de para onde o próximo minuto vai nos levar. Significa carpe diem, a hora, o minuto, porque tudo pode e deve mudar conforme o fluxo dos acontecimentos. Sou louco, eu acho, porque não consigo me programar e, tudo que eu preparo, se desprepara pelo caminho. Mas e a vida? Também não é assim?
Sou louco porque a base do que tenho para ensinar, eu aprendi com uma antiga professora de artes do fundamental: "Nada de borracha nem régua!", ela dizia e a gente sofria com a realidade crua e torta que se impunha diante de nós. E meus alunos sofrem quando eu, hoje, repito o mesmo bordão. "Nada de régua nem de borracha, quero tudo torto, como a vida é torta!"
Acredito (porque sou um professor louco) na coexistência, no viver juntos (pelo menos enquanto dura a paciência de aguentar os pestinhas no esplendor de seu protagonismo juvenil), ou seja, o modo que eu existo junto aos meus alunos é, na verdade, o que tenho para ensinar para eles. Se sou louco é disso que vão lembrar! Adoro quando escuto alguém dizendo "ele gosta de desenhos todos tortos!" Isso quer dizer que minha existência torta junto deles está surtindo efeito.
Apesar de ter claro, para mim, que professores e alunos vivem lados e desejos diferentes de uma luta de classes, e que nessa luta temos (ou pensamos ter) mais poder, eu acredito na quebra de fronteiras, na invasão do orkut pelos professores, na troca das conversas modorrentas sobre salário baixo, corrupção, cansaço e receitas com creme de leite da sala dos professores por coexistência/salgadinho com coca cola na cantina, na hora do recreio deles.
Não tem jeito, sou mesmo um professor louco! E acho que ser um é importante nesses tempos atuais pedagogicamente corretos, cheios de teorias, supervisões, projetos interdisciplinares, valores de cidadania e inclusões, limpos, claros, admiravelmente administrados, porém sem alma e sem nem um pouco de originalidade.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
Gostei muito dos seus textos
e me identifiquei com o "timing" da sua espirituosidade...
Valeu!
Fui no google pesquisar "mini prateleira" e cai de paraquedas no seu blog. Bem-feito. Que tipo de pessoa busca esse termo no google achado encontrar o que procura?
O termo estranho que o google dizia aparecer no seu blog eu não achei. No lugar das prateleiras encontrei textos bem humorados e emocionantes de um professor que gosta de traços tortos (como a vida é) e que acredita num equilíbrio cósmico que define o destino de um pobre gafanhoto. Adorei. Já está entre os meus favoritos.
pois é, esse google é meio louco mesmo, outro dia fui procurar uma coisa e nao consegui achar onde ele me mandou. Graças a Deus! penso agora, já que, por conta disso, ganhei mais uma leitora. Obrigado!
cleido
Postar um comentário