27.12.06

Um Sonho de Natal

Quatro e pouco da manhã, começo a emitir alguns sonidos engasgados e estranhos, palavras mastigadas e invertidas parecidas com as frases proferidas por Emily Rose. Estou numa rua perto do rio, num cruzamento. No meio da calçada tem uma garrafa de champagne Veuve Clicquot Brut, vidro verde, rótulo ocre velho, igual ao original só que com um gargalo bem mais largo. Nela, dorme paciente um grande demônio, confortável como deveria ser a Jeannie em sua garrafinha-lar. Tenho que expulsá-lo e a única maneira que me vem à mente, dentro da mente, é com água benta. Pego um pouco e começo a aspergir sobre a garrafa de Veuve Clicquot, que fica enlouquecida e começa a expulsar o demo num jato vulcão ejaculatório de menthos e coca. Apesar de estar acostumado a sonhar com capetas, fico com certo medo daquele agito todo.
Meu medo maior é do demo sair da garrafa e passar para dentro dessa outra garrafa que vos escreve. Chego a achar que algumas gotas do demônio líquido espirrou em minha roupa e começo a borrifar a água santa em mim também. É nessa hora que começam os barulhos afogados e ao contrário. É nessa hora que são quatro e pouco da manhã e eu acordo com a Claudia me chamando.
É noite de natal, de nascimento. É quase fim de ano e de recomeço. Sinto-me como se tivesse tomado um laxante de alma e expulsado todas as coisas ruins internas, deixando só o bem dentro de mim. Prontinho para o futuro. Sei que não vai durar muito essa limpeza. Sei que eles vão voltar aos poucos e grudar mansamente nos espaços internos como o colesterol ruim se fixa nas artérias. Sou humano e nada do que é humano me é estranho. Mas não faz mal, por enquanto estou limpo, e com a garrafa vazia, pronta para ser preenchida, novamente, até o final de 2007.

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