Ajuste seu controles para o coração do sol. (música: careful wtih that axe, eugene; álbum: ummagumma; banda: pink floyd)
Na época da ditadura, meu então cunhado revolucionário me ensinava física nuclear. Isso fez de mim, e de meus amigos, os únicos moleques de 12 anos da cidade a saber da decomposição das partículas subatômicas em meson pi, em neutrinos, em pósitrons e mais uma série de orgias nucleares que descobri existirem no interior do um simples e pacato átomo. Numa das inúmeras HQ que costumava desenhar, fiz até um modelo de bomba atômica para ser usado contra os americanos opressores capitalistas, chamava-se AR-1 (atômico revolucionário um - quiá, quiá, quiá, vejam o desenho logo abaixo aqui no blog). Nesse tempo, meu irmão mais velho tinha a turminha bacaninha dele, da faculdade. Numa das poucas vezes que o irmão mais novo, pentelho e chorão (eu) saiu com essa turminha mais velha, nós saimos no carro de um colega deles que eles suspeitavam que "bebia" maconha. O carro era um corcel vermelho, duas portas que tinha um som, um toca fitas... Lembro que ele corria pela francisco junqueira enquanto tocava uma música muito interessante. Perguntei o que era e ele me disse que a banda se chamava pink floyd, que aquela música se chamava "cuidado com o machado, eugene!" Quem conhece a música, sabe do que estou falando, é uma legitima viajandona que vai crescendo devagar, demorando, tocada ao vivo, a bateria fazendo uma batida seca de machado na lenha, o clima vai aumentando, coisa de consumidores de substâncias ilegais alucinógenas, até o clímax, onde uma voz diz, sussurada: careful with that axe, eugene! Depois disso, um grito desesperado, baterias enlouquecidas e guinchos de guitarras transformam o que era um climinha oriental em bad trip das bravas. Acontece que nessa hora orgástica, o corcel zunia pela francisco de madrugada, numa curva de pneu cantante. Preciso dizer que obsequei pelo pink? Que no outro dia estava na loja olhando a estranha (até hoje) capa da vaquinha meiga sem mais nada escrito? É, mas a noite ainda não tinha acabado. Fomos nadar na fonte do teatro de arena, munidos de violão e limão e pinga. E eu, mero espectador daquela juventude mais para frente, olhando e descobrindo o pink, o rock, o progressive rock. É óbvio que todo mundo, estudantes universitários moderninhos e repletos de energia reichiana, fez a maior zona na fontinha. É óbvio que a polícia chegou e levou todo mundo preso. Fomos no corcel vermelho da descoberta, para a delegacia, seguidos de perto pelo camburão. No meio do caminho, uma das meninas lembrou que tinha uns papéis subversivos na bolsa. Meticulosamente, mastigamos e engolimos cada pedacinho dos panfletos durante todo o trajeto. No outro dia (para vocês verem como era uma cidade pequena e calma) saiu no jornal uma notinha dos estudantes que faziam arruaça na fonte. Eu era o menor C.R.F.V., 12 anos. Lembro também que meu pai, orgulhoso, recortou e guardou a notícia, como recordação.
ps. pode ser que tudo isso não tenha acontecido num mesmo dia, mas fica mais bonito assim...
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