Por que gosto de lavar roupas

(julho de 2004)
Julho é mês de férias das crianças, às vezes dos adultos e também da empregada. Isso me faz retomar uma atividade que gosto: lavar roupas. Não vou dizer que largaria um daqueles antigos programas da Marcia Goldsmith no SBT, para lavar roupas, mas gosto muito. Lógico que digo lavar roupas na máquina de lavar. Compro um monte de sabão, cores, multiação, progress, de côco líquido, um só para as escuras. Roupas das crianças num dia, coloridas numa hora, meias sujas, de molho de um dia para o outro e com meio copo de alvejante sem cloro. Quando estou muito inspirado, faço misturinhas, alquimias na área de serviço. Pego o copo medidor e coloco 20% de um e 80% de outro, para retirar as sujeirinhas sem detonar muito. Depois que a máquina começa a funcionar, tenho que sair correndo porque sofro de uma atração irrestível para ficar vendo elas rodarem em volta ao eixo central. Marco bem, com o olhar, uma mais coloridinha e acompanho sua trajetória rumo ao inexorável redemoinho que a tudo suga devagar. Me lembro do buraco negro no centro da via láctea e ela, glupt!, é pega pelas pás macias da máquina. Nesse momento, já estou completamente mesmerizado. As mais delicadas, as lãs e etc., coloco naqueles saquinhos de tela, com zíper. Antes da máquina atual, eu tinha uma de tombamento, daquelas de abertura frontal e também gostava de olhar as roupas caírem umas sobre as outras, mas tinha que ficar sentado de frente para ela, era mais difícil de disfarçar minha estranha forma de vida (o que, para internar, era um passo!). Mas nada se compara a atual, com abertura superior, onde podemos ver todas as roupinhas-sistemas solares-planetas-poeira de estrelas sendo sugadas pelo horizonte de eventos central, imergindo em direção a um novo universo de limpeza. É bem melhor que aquário e igualável a uma lava luz bem azeitada. Houve uma época em que, depois, colocava as roupas em degradée de tons, no varal, para secarem, mas daí mudei a medicação e não senti maisnecessidade, quiá, quiá, quiá!