Em 1984 fiz minha primeira exposição profissional de pinturas no SENAC de ribeirão. Foi uma coletiva, me lembro que nela tb estava o Paló com uns carpetes pintados com tinta óleo. Como eu era jovem e incendiário, fiz um quadro provocador que ficou famoso por um bom tempo, chamava-se "nossa senhora conversando com Deus", nessa singela obra, uma nossa senhora em êxtase, se masturbava ... Nem preciso dizer que conheci a ira dos cristãos bem antes do pessoal da última tentação de cristo. Minha mãe e uma amiga dela foram ver a exposição e ficaram muito abaladas, vieram conversar comigo e eu vi nos olhinhos dela aquela expressão "é meu filho mas é um monstro". Bem, só sei que elas inventaram um explicação bem legal para aquilo tudo, disseram que na verdade aquela mulher, representada no desenho, era uma mulher que tinha como deus o sexo e por isso que era daquele jeito, perguntaram para mim se era aquilo, eu disse que poderia ser (saca, todo quadro é uma obra aberta em que vc vê aquilo que sua história particular de vida acoplada a história comum de sua própria cultura sócio-histórica permitem co-construirem num momento de puro acoplamento estrutural com sua circunstância, quiá quiá quiá), todo mundo ficou feliz ...
Mas foi um rebu geral, e eu com aquela cara de nossa, nossa, prá que tanta revolta? Só quis mostrar, já que estava numa fase pós-adolescente de ler reich e david cooper, que a energia sexual é uma forma de comunicação com o divino, talvez o que restou em nós da explosão inicial que deu origem a tudo. Teve um senhor que escreveu uma carta para a direção do SENAC em que, na melhor parte, dizia: ... e essa COISA chamada cleido! Isso foi uma das coisas que eu me arrependo na vida, nao ter tirado um xerox dessa carta para colocar no meu currículo. Se algo que vc faz (pinta, desenha, performeia, escreve) é capaz de mobilizar tanta energia emocional no outro, vc com certeza deve estar no caminho certo. Afinal, arte é provocação, é sacolejar mentes dormidas ou mentes despertas, porém cegas pela própria luz. Mas hoje tudo é diferente, não sou mais jovem e nem incendiário, estou mais para meia idade e para bombeiro. O que eu faço não causa mais revoltas em ninguém... ninguém comenta, ninguém fala... snif, snif, snif...
Que saudades daqueles tempos em que eu provocava os conservadores, os donos da verdade, e eles ficavam nervosos comigo!
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