(abril de 2004)
"Sexta feira Santa, 16:45h, no supermercado pão de açucar, lugar degente feliz."
Eu e a minha família feliz paramos o carro no estacionamento e começamosa descer. Olho para o lado e vejo um antigo colega da graduação,daqueles companheiros de ócio, cantina, bozó, escadaria da faculdade edas infindáveis recuperações de anatomia, patologia e outras iasinfernais. Faz tempo que não o vejo e ele está a alguns metros dedistância, grito seu nome, ele olha para trás, discretamente, dá umsorriso discreto, lança um olhar discreto com seus olhinhos pequenos efaz um oi, discreto, de quem é psiquiatra e tá fazendo memorial para seraceito no templo. Depois retoma rápido seu caminhar com seu carrinho jácheio de compras.Eu entro com a trempa pelo supermercado e começo a praguejar para aesposa, que olha para os caquis. Digo: "Esse povo depois que ficapsiquiatra, fica desse jeito, distante! Mesmo no supermercado elescontinuam com essa cara de tela branca de projeção de datashow!!! Pareceque têm medo que a gente lembre o passado, quiá, quiá, quiá!"Nisso, sinto que a minha esposa se afasta com rapidez e vai sorrateira,na medida que é possivel ser sorrateira com três filhos gravitando aoseu redor como elétrons em volta de um núcleo de urânio, até bemlonge... olhar iogurtes sortidos.Sinto um vazio no ser, já que ela não deu corda pros meusesbravejamentos magoados, sinto minhas palavras mortas no ar...Vou atrás dela já mudando de assunto porque chego a conclusão que elaestá mais interessada em achar aquele liquidinho violeta que pinga naágua para deixar a salada de molho e matar os bichinhos. Quando chegoperto, ainda estou disposto a reclamar mais um pouquinho do EX-colega,mas ela me diz: "Pô! você começou a falar mal do seu colega e dospsiquiatras em geral e o MEU EX-PSIQUIATRA estava ali nas verduras eolhou para mim enquanto eu não olhava para ele e vice-versa, que mico!!!"E eu disse: "E o pior que ele deve ter visto você e pensado: - coitada,cheia de filhos e casada com um peão de boiadeiro, quiá quiá quiá!!!!!"
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