(agosto de 2004)
Um amigo meu dizia possuir sérios conflitos existenciais quando se encontrava diante uma formiga, presa numa pequena gotícula de água, numa borda de pia. Não sabia se salvava, interferindo em todo o equilibrio cósmico ou não. E se Deus o tivesse colocado ali, naquela hora, justamente para isso, para salvá-la? Sempre tinha dúvidas (e não me lembro como resolvia isso). Ontem na casa da minha mãe, minha família deparou com problema semelhante. Um passarinho filhote que caiu do ninho. Se deixássemos ele lá, fatalmente morreria, se levássemos, passaríamos para a categoria de quadrigêmeos. E lá viemos nós com ele, que o Nico batizou de fubazinho em homenagem a papinha que eu tinha feito. Em casa, na caixinha, usei meus parcos conhecimentos etológicos para fazê-lo comer um pouco de meus dedos em formato de bico de mãe-passarinho e até que ele comeu. No outro dia, fui lá ver o fubazinho, depois de ter ido até o carrefour procurar papinha para nenê-passarinho e não achar. E o fubazinho tava lá duro, mortinho. Falei para as crianças que ele tinha ido embora. Peguei o corpo dele, meio triste e também meio aliviado de não ter mais que alimentá-lo pelos próximos 15 dias e ainda ter que aguentá-lo partir. Peguei o pequeno e pensei: jogo no lixo lá fora? enterro? Resolvi colocá-lo perto de uma família de gatos que moram no bueiro da esquina de casa. Voltei para dentro e disse para a Claudia que tinha deixado com os gatos e que, pelo menos, ele serviria para alguma coisa. Ela virou para mim, com aquele olhar de quem pensa no ciclo do nitrogênio e em todos os outros ciclos das coisas vivas na Terra e disse; "De qualquer jeito, ele serviria para alguma coisa!"
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