Família, filhos e parada gay

Viver com três crianças de mesma idade é uma experiência que, exceto na vezes em que dá vontade de pular do prédio de cabeça e com as mãos para trás, pode ser muito engraçada. Ver pequenos seres construirem mundos, aplicar definições, deduzirem coisas e obviamente chegarem as suas próprias conclusões, como diria o cartão, não tem preço!O Joca vive no espaço sideral dos desenhos e filmes de super heróis. Adora prestar atenção numa história contada pela mãe, ouvida nos disquinhos ou assistida na tv. Quase todo seu vocabulário vem, com todas as inflexões dramáticas e épicas, dos filmes. São frases usadas na hora certa, encaixadas no contexto, apesar de permanecerem iguais ao lugar de onde foram retiradas. Aos três anos, numa festa de aniversário de um primo, chegou para a sogra (que nem ele nem o resto da familia conhecia) do pai do aniversariante e se apresentou; "Oi, meu nome é Jimy Neutron. Eu venho do planeta Terra e você é uma forma de vida alienígena!" (muito tempo depois foi mesmo constatado se tratar de uma estranha forma de vida) Na semana passada, aos cinco, ao ser pego na escolinha, disse para a mãe: "Ei, acho que estou meio culpado! Fiz uma coisa horrível com a (professora) Gigi!" Ou ainda enquanto eu, no meio de um surto em que, se fosse alcóolotra teria feito patê de trigêmeos, gritando feito um louco, escuto "Ei, pai! Você está meio tenso!"A Sofia e o Nicolau têm altas discussões sobre os sentidos das coisas e a existência humana e o momento sócio-cultural pelo qual passamos. O fato de conhecerem um pouco mais sobre os índios, na escolinha, rendeu algumas discussões acaloradas em casa. Um dia, com seu espirito delinquente, Nicolau disse para a Sofia que os índios pelados eram um chatos. Sofia, em seu tom didático de professora disse "Nico, é a coltura deles!". (Sim, sim, ela acha super chique falar coltura). Nicolau, por sua vez e continuando no espírito delinqua-skatista-sintético, retrucou: "A cultura deles é uma chata!". Sofia ainda tentou: "Nico, não fala assim, foram as professoras que disseram!". O que ele enterrou o assunto com um "As professoras também são umas chatas!"Hoje, uma semana depois da família ter ido na parada gay e deles terem escutado a explicação de que gay é quando namora homem com homem ou mulher com mulher, dos pais modernos e conscientes e super antenados com essa nova era pós-moderna que se instala no ser aprendente da pós-era-de-aquário em congruência com sua circunstância, a Sofia virou para mim e concluiu; "Pai, a Ana Laura (amiguinha de turma dela na escolinha) é gay!" No que eu perguntei "Por que, Sofia?" E ela respondeu "Porque uma vez ela beijou uma nenezinha na boca!". Enquanto eu começava a explicar para ela que não era bem assim, vira o Nicolau e (ainda no tom adolescente de seus 5 anos) diz: "Sofia, isso é uma coisa que só dá em adultos!"
enquanto isso, ao fundo, Joca com seus indefectíveis bonequinhos de super heróis nas mãos, olha para o infinito e além!)