26.7.05

Por que enjoei dos meus amigos!

Sempre levei os amigos a sério e sempre fui fiel a eles. Por conta disso, tenho alguns que remetem ao período jurássico de minha vida, desde o terceiro ano do ensino fundamental. Está certo que cometi alguns erros de avaliação, investi em proto-amizades que não viraram nada, que deram algumas voltas sobre si mesmo e sumiram como o fio de fumaça da brasa some ao tocar o resto de líquido de um fundo de copo. Assim, se alguns se perderam pelo caminho, posso afirmar, com certeza, que a culpa não foi minha, que não tive nada a ver com isso. Eu sempre estive aqui. Quer dizer, sempre é uma expressão lingüística usada para transmitir sensação de eternidade e estabilidade. Na realidade, eu estive por aqui apenas nos últimos 37 anos. Sempre no mesmo lugar. Eu sou uma pessoa que escuta, sempre fui. Às vezes escutei pacientemente por horas, outras vezes por minutos. Eu gosto de escutar. Isso fez de mim um teramigo, uma mistura de terapeuta e amigo de meus amigos. Aliás, como teramigo não funciono nada para resolver problemas, porque escuto como um terapeuta, mas também concordo (com quase tudo) como um amigo e, por isso, apenas ajudo a secar o charco d´agua deixado pelos líquidos salgados, derramados pelo e sobre os corações e espíritos tristes e/ou irriquietos dos felas necessitados. E isso não é pouco.
Por conta dessa minha característica, já escutei separações, voltas, separações, voltas, separações, voltas, brigas, traições, projetos bárbaros ainda na cabeça, crises financeiras, conjugais, existenciais, sexuais e de abstinência. Sempre foi assim. Tinha um amigo na faculdade que me contava tanta intimidade da família que eu pedia para ele parar. Afinal, eu não fazia supervisão e preferia a minha parte de neuroses conjugais em filmes do Bergmann. Pois é, eu sempre tive essa cara de pode contar porque eu sou de confiança. Sigilo absoluto ou seu dinheiro de volta.Mas essa longa estrada da vida, pavimentada por bloquinhos de conversas cristalizadas, acabou por formar uma via de mão única, onde meu táxi emocional estava sempre livre e disposto a levar uma orelha ao amigo necessitado mais próximo.
Se, nos últimos tempos, passei por algumas necessidades de conversas, foi extremamente difícil fazer a curva fechada e voltar pela estrada que eu construí. Eu sei que eu acostumei mal todos eles, a culpa é minha. A orelha quis virar boca, mas não tinha muita prática. Por isso, enjoei de meus amigos. Resolvi me lançar numa carreira solo. Tá certo, tá certo, eu sei que não vai durar muito, porque eu dependo deles, mas o importante é essa sensação de infinito enquanto dure.

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