25.9.05

Por que um filho só é muito pouco!

Toda vez que pago a mensalidade das crianças na escola, que compro roupas e brinquedos, que sai uma nova macOferta, que a Sofia e o Nicolau começam brigar e trocar insultos verbais e chorar, e o Joca entra no meio e mete a mão em quem ele acha que está errado. Toda vez, apesar do gasto e do psico-caos que se abate sobre mim, eu ainda penso: "Por que eu continuo achando que ter um filho só é muito pouco?" Me desculpem os conhecidos, amigos e/ou parentes praticantes da familia nuclear modelo básico, pápis, mâmis e um(a)filho(a)só, mas acho isso muito pouco para se viver uma vida de filhos. Não é só pelo advento trigêmico provêtico, de que faço parte, que eu defendo a prática de filhos (quase) indiscriminada. É que eu adoro a sensação de ter arregaçado com a curva de Gauss da natalidade média de minha classe que ainda pensa também ser média. Eu adoro ter contribuído com minha parte (e que parte!) da expansão demográfica do planeta. Não me entendam mal, não ter filhos é uma coisa que eu aceito muito bem! Mas ter um filho só é muito pouco. É como brincar de casinha e achar que vai conseguir mantê-la arrumada o tempo inteiro. Ter um filho só é achar que é possível controlar todas as variáveis da vida moderna. Que vamos conseguir ter dinheiro suficiente para que ele estude nas melhores escolas (construtivistas, of course!), pagar o inglês (mundo globalizado, ele vai precisar!), a natação, o balé, o judô, as aulas de informática, equitação, música, o aparelho nos dentes, a terapia, o espanhol (só para ele sair na frente dos tontinhos que SÓ sabem inglês), o curso de filosofia kids, a informática para bebês e etc. Que aos cinco já vamos ter conseguido alfabetizá-lo, que aos doze já estará falando três línguas, aos 17 no primeiro ano da usp e aos 22 já vai estar formado (e desempregado!). Ter um filho só é conseguir fazer o que eles querem, é atender as necessidades de consumo de nossa época. É conseguir comprar a barbie, o max steel, o carro para a faculdade, a festa dos quinze. É conseguir consumir tudo que nos mandam consumir, é obedecer. Não que eu seja revoltado e desobediente, é só que com três, eu não dou conta de seguir as regras à risca!(e por isso pareço ser, assim, revoltado e desobediente). Mas eu gosto dessa sensação de que não vou conseguir controlar nada mesmo, só o momento (e olhe lá). E que depois virão outros momentos, e outros e outros. E que dessa sucessão de momentos presentes vividos no aqui e agora, teremos todos nós construído nossa história. Rica, louca, incontrolavemente louca, como a própra vida. História feita do ar que entra a cada instante pelos nossos pulmões, do sangue que nos alimenta, dos músculos que nos movem, das reflexões, dos toques, dos pensamentos, dos encontros e conflitos, dos sentimentos e do quase nenhum controle que temos sobre ela (a vida), mas que continuamos insistindo em não perceber.

2 comentários:

ADRIANO FACIOLI disse...

É, Cleido, a vida às vezes parece uma poesia que começamos a escrever, completamente embriagados, que não terminamos ainda, não sabemos pra onde vai e que ainda não fomos capazes de ler: uma criação contínua, sem rumo e sem a garantia de bons resultados... Um abraço

Anônimo disse...

Olá Cleido,
Sou Fernanda, esposa do César Suzigan. Embora não pretenda ter mais 1 filho, adorei seu texto... coloquei ele no meu blog, Ok? http://fecarracedo.blog.uol.com.br
Abraços e boa sorte com seus 3!!!