Querer ajudar, às vezes, não é nada!

Um dia, andando pela rua numa tarde calorenta de ribeirão, vejo um pequeno gafanhoto no meio da calçada. Olho para ele e, com aquela superioridade típica do mamíferos primatas que se aguentam em duas patas, penso em ajudá-lo. Sempre tive essa atração para salvar pequenos insetos a se safarem de alguma enrascada que o mundo das folhas e das gotas d'água tenha preparado para eles. Com exceção de um curto período na primeira infância em que fazia barrinho mole na terra da rua e colocava saúvas para afundarem em horríveis areias movediças, nunca fui de torturar animais. Tudo bem, tudo bem, uma vez aterrorizei verbalmente uma formiga, costumava assustar gatos que passeavam tranquilos nos muros da minha velha casa, matei muito sapo, por dinheiro, na pós graduação e, ainda hoje, não posso negar, tenho um certo prazer quando consigo pegar um pernilongo com uma mão só, no ar, e esmagá-lo cruelmente. É, pensando bem, o curso de Bonzinho com os Bichos, eu devo ter feito por correspondência...De qualquer maneira, mais uma vez, o primatão bípede resolveu interferir no equilibrio cósmico (já que sempre paira uma dúvida se não foi justamente o dono do equilibrio que te colocou ali, naquela hora, para fazer alguma coisa). Penso: "Nossa, coitadinho, aqui no meio da calçada alguém vai acabar pisando nele!" Com um ligeiro toque de pé, empurro o verdinho para o meio fio. O gafa, que pelo jeito só estava, literalmente, precisando de um empurrão para pegar no tranco, dá uma voada baixa até o final da calçada. Nessa voada, surge um pardal parente daquele do "Vida de Inseto" e vupt, abocanha o gafanhoto e vai comê-lo junto às árvores. Faço aquela cara de "ops, eu só queria ajudar!" e vou andando, sem olhar para trás, nem para frente, nem para cima e nem para baixo, com medo de encarar o equílibrio cósmico, porque, afinal, ele está em todas as partes.