Terça feira, última semana de férias, treze horas, umidade relativa do ar, dezenove por cento. Partimos rumo ao parque de brinquedos do shopping de ribeirão, o famoso parque do gorilão. Munidos de muita fé, sol escaldante e três passaportes que permitiam os tri brincarem em tudo, quantas vezes quisessem, seguramos na mão de Deus e fomos! Primeira parada: carrinho de trombadas. Vou com o Nico em um e a mãe vai com os outros dois em outro brinquedo. Eu no acelerador, vem um capeta alheio e caceteia meu carro de frente. Minha perna, um pouco fora de época para o tamanho do carro, bate o osso, tíbia? perônio? aulas de anatomia bem distantes, na quina do maldito e dói muito. Continuo firme no volante, igual ao bravo vigilante! Acaba a sessão, vem o resto da família, o nico e a sô vão com a claudia num carrinho e eu fico com o joca. Lá vamos nós de novo! Nessa altura, sabendo de minhas limitações, evito trombar com meus companheiros de aventura. Mas, uma hora, não escapo, caceteio de novo com outro carro e bato exatamente no mesmo lugar e dói, dói, dói, dóóóóóóóói muito. Um sorriso amarelo se estampa em meu rosto. A dor não passa, o joca pede para eu acelerar (e a dor não diminui) e eu começo a dirigir igual uma barata que levou uma semi chinelada. O tempo acaba, ufa! Será que consigo ficar em pé? A dor não passa. Começo a estressar, cortisol jorra as baldes pela corrente sanguínea. Ando, na boa, mas a dor não passa. Se eu me lembro das aulas de metabolismo, acho que o estresse libera insulina que acaba com minha glicose sanguínea e me deixa naquele estado de vou desmaiar. Não estou legal. Miro um agrupamento de cadeiras numa sombra e vou, com a família, até lá. Na impossibilidade de deitar nas pedrinhas e morrer, me contento com as cadeiras. Os filhos falam coisas, a claudia diz algo como "não acredito que você está passando mal!!!!" Eu me sento e todas as vozes vão se afastando e nem dá para eu ficar longe da luz porque, duas horas da tarde, tudo é luz! Tenho certeza que, no mínimo, vou desmaiar. Olho para minha mão e estou segurando meus novos óculos ray ban, que fazia apenas três horas que tinha adquirido e era a primeira vez que estava levando-os para passear. Escuto a voz da claudia bem longe dizendo: "É hipoglicemia, vou pegar uma coca!" Olho para o chão, feito de milhares de pedrinhas de asfalto, e penso: "Morrer sim, mas essas lentes de cristal jamais tocarão este solo!" Em slow, abro a bolsa, pego o estojo dos óculos e guardo-os, cuidadosamente. Nessa vida, tudo tem um preço, e eu me lembro muito bem o deles. Tomo uns goles de coca e a cor começa a voltar. O mundo começa a voltar. Decidimos dar um tempo, por conta do quente/seco do clima e vamos para o shopping comer mac, dar um rolê, enquanto o astro rei termina seu desfile "apogeu e glória de um Deus Nagô" pelos céus.
Lá pelas cinco, voltamos ao gorilão. Perna roxa calminha, crianças alimentadas (?), começa a segunda fase. Dez voltas, sem sair de cima, na mini montanha russa faz meu medo inicial da descida se transformar em tédio existencial suficiente para a prática de lista mental de supermercado.O joca começa a soltar as mãos na descida. Vejo, ao fundo, a claudia subindo as escadas do tobogã, com a sofia, pela quarta vez. Issso sim é que é steps e pilates! O joca bate a cabeça na do nico, numa curva e começa a chorar. Peço para ele se acalmar, mas não adianta muito. O carrinho pára, algumas pessoas descem, o joca continua bravo, a moça que cuida do brinquedo diz para ele, com toda paciência, ficar calmo. Ele a chama de porco espinho, eu fico com aquela cara de besta e peço para ele pedir desculpas. Ele pede desculpas, entre dentes. A moça diz que entende perfeitamente porque tem um desses em casa. Eu digo "Então você também já passou vergonha em público?!" Ela diz que sim e me pergunta se eu já levei ele num neurologista. Faço aquela cara de quem está pensando na morte da bezerra. Ela insiste: "Neurologista, médico de cabeça!" Eu digo, "Ah, sim, já levei, mas agora ele faz psicoterapia!" Ela diz que o dela melhorou muito depois que começou a tomar ritalina. Eu respondo com um simples "anrrã", lembrando da metade de meus alunos que tomam o remedinho da moda neuro-orgânica "tudo é uma questão de falta ou excesso de neurotransmissores".
Levanto, falamos tchau e saímos em direção a uma nova aventura, enquanto eu penso no Joca, em sua braveza e impaciência. E penso que, apesar da ritalina estar ao lado, ainda acreditamos na boa e velha (e demorada) psicanálise. Que pode ser que a terapia não resolva tudo, mas que ela é muito mais chique do que uma pequena camisa de força química, a lá, isso ela é!
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