Entrar, ou não entrar, no salão de arte contemporânea de riberão preto (sarp), fez parte de minha vida artística durante um bom tempo. A primeira vez que tentei, deveria ter uns 19-20 aninhos, pintava umas coisas fora de moda e com uma tinta também fora de moda (ecoline) para a contemporaneidade da mostra. Era vidrado em Roger Dean e nas capas do Yes e meu suplício de uma saudade consistia em tentar entender como ele conseguia fazer aquilo sem deixar marcas de pinceladas. Resumindo, levei meu primeiro não, de uma série de outros que viriam, intermeados por alguns sins, nesse difícil processo de amadurecimento interno artístico enquanto o mundo lá fora, pode ser que esteja surfando em outra onda.Desde o (quase) começo meu de, profissionalmente, pintar, sempre esteve por perto a figura do Hélio Martins e de sua leveza-zen-alguns-anos-adiante. Sei que ele também me admira mas, o que ele não sabe é que sempre esteve algumas incompreensíveis ondas à minha frente. Quando ele ganhou o prêmio máximo do sarp, a long time ago, com uma colagem sobre um fundo meticulosamente xadrez (e eu, provavelmente nem tenha entrado nesse salão com minhas ecolines da época) foi que eu prestei atenção pela primeira vez em seu nome/trabalho. Fiquei revoltado que alguém não só entrasse como ganhasse uma mostra de arte com uma colagem! Reclamei muito sozinho, mas, sem saber, meus desenhos da época começaram a ficar mais soltos, começaram a ter alguns elementos recortados de revistas... avançaram um pouco mais.
Depois de um tempo, fui ver uma exposição dele na finada galeria do campus da usp. Eram umas pinceladas-faixas soltas sobre folhas de papel artesanal de algodão (lá pelos idos de 85, nem o papel artesanal nem o reciclado sonhavam em estar na moda, ainda), lembravam os hexagramas do I Ching, as linhas yin e yang. Os títulos dos desenhos eram poéticos e descobri que ele havia sorteado os nomes para cada desenho, resgatando um pouco do acaso do oráculo chinês e do cage, em sua arte. E eu, que não tinha a mínima idéia do que seria um conceito, me irritei mais um pouco com aquele aleatório incorporado. Como um nome poderia existir antes da obra e ser, posteriormente, conectado à ela pelo acaso???? Não cheguei a começar a sortear nomes para meus quadros, mas, talvez, os desenhos tenham escorregado para outros meios, outros papéis, antes improváveis de sustentá-los.
Daí, um dia, um ano, não sei, no auge de sua arte e do reconhecimento dela pelos outros, ele se afasta do mundo artístico e pára de expor. Fica lá, construíndo sorrisos em seu consultório, aparentemente longe do borburinho moderno dos vernissages e salões. E eu reclamei disso também porque, nessa hora, já tinha conseguido entender a sutileza de sua arte e agora não conseguia entender porque ele tinha sumido. E eu continuei a ferver em performances e telas por aí, topando (quase) tudo para mordiscar um canapezinho básico de verní.
Quando começou o boooom da fotografia digital, ele apareceu com uma exposição de fotos analógicas (???) de filme de revelar! Com cores saturadas em processos de laboratório e com a poesia de gás-leve de sempre.
Recentemente, fui a um evento moderno e os artistas estavam todos lá, conversando sobre projetos de arte, educação e curadorias. E eu senti uma preguiça imensa deles e das artes. E eu entendi, finalmente, porque o Hélio, mais uma vez adiante de meu tempo, tinha se retirado.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário