22.12.07

Extermínio e paranóia antes do final (de ano)

Saio da locadora com três filmes: Duro de Matar 4.0, Paranóia, Extermínio 2. Nada de festival francês, nada de longas pausas e nem paisagens da Toscana. Eu quero é sangue! Tudo isso, talvez, seja reflexo da notícia que minhas aulas foram ceifadas pela quase metade. Que no final de janeiro, me espera uma viagem pedagógica ao inferno. Não, não, corrigindo, viagem ao inferno, pelo que vi no Constantine, deve ser muito mais interessante do que o que me aguarda o final das férias. É, agora tenho certeza, isso tudo ajudou na configuração de minha trinca de filmes no dia da oferta pague 2, leve 3. Não resta mais nenhuma dúvida: sou eu, mostrando para mim, o furor-mix de ódio, sangue e tristeza que insiste em brigar com meu espírito natalino tradicional. Depois da locadora, vou com a família comer alguma coisa fora. Chegamos ao restaurante (quase) vazio e a única outra mesa com pessoas no espaço fechado, está ocupado por um conhecido velho psiquiatra alternativo da cidade e uma mulher. Os dois conversam e fumam. FUMAM no restaurante fechado. O primeiro filme que me vem a cabeça, da minha trinca, é o extermínio. Lembro daquela penca de zumbis ligeirinhos voando à dentadas sobre os pobres normais e quase fico calmo. Meu humor está péssimo. A mulher fala alto e muito. Ela fala enquanto solta a fumaça e vejo aquela boca-matraca abrindo e fechando entremeada por uma cortina de fumaça. Não sei se por força do hábito, se por achar ela chata também ou se para dar corda para o ego dela fazer lacinhos, o psi só fica na escuta. Naquela serena e silenciosa escuta de quem, na melhor das hipóteses, vai esperar aquela falação toda acabar para eles... ó!!!! (se é que vocês me entendem). Ela, parece que qué, qué, qué, muito abrir sua psiquê para ele. Pelo menos é isso que eu penso, naquela hora, soterrado pelo meu imenso mau humor. Além de tudo, a comida demora muito para chegar. As crianças, sabendo instintivamente do meu estado mental, reduzem o nível de brincadeiras e correrias ao essencial. Sabem o risco de lesões psico-corporais que elas correm, nessas horas, e por isso, brincam sossegadas com alguns porta-copos. A louca está lá, fumando, falando. O trata-louco está lá, fumando, escutando. Quando será que vai vir minha comida (ou a deles)? Quando penso que nada, mas nada mesmo, poderá melhorar meu emocional (como diriam os palestrantes de auto-ajuda), a matraca loura, vestida em uma camisa branca com rendas e colares de pérolas, muitas pulseiras e uma cara de advogada de meia idade (ou de vendedora senior do mercado de imóveis), se levanta, reclamando de uma dor em certa parte de sua anatomia, pára de costas para o psicoterapeuta sentado e pega a mão dele e passa nos supostos carocinhos que ela tem na bunda, para ele sentir. Existe descrença no novo ano que possa sobreviver a uma cena dessa? Sinto dentro de meu eu, uma fagulha crescer em forma de alegria simples e súbita. Tudo que era raiva, rancor e sangue se transforma em ... raiva, rancor e um novo sabor frutas vermelhas. Olho para a Claudia e damos uma risadinha diante de tão explícita cena de psiquê molhadinha. Agora, tudo se desfaz, e se recompõe. Meu velho estado de espírito natalino volta a predominar. O Extermínio 2 da raça humana já não é mais prioridade em meu ser. Posso seguir em paz, a travessia que o futuro próximo me indica. Obrigado Matraca!

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