6.12.07

Aí vem o Natal!

Se eu fosse bem rico, bilionário, meu passatempo predileto seria test-drive de pessoas de nível. Meu prazer, nada secreto, seria testar pessoas de renomada e ilibada reputação intelectual e/ou moral e levá-las ao limite. Para a Fernanda Montenegro, ofereceria um papel num comercial de Corega, em que ela exaltasse os poderes colantes milagrosos do pó de dentadura. Primeiro, dava uns 200 mil reais de cachê, só para testar e, conforme o necessário, iria aumentando o valor até dobrar a grande dama do teatro/cinema/televisão e, quem sabe, pó para dentadura, brasileira. Depois, ofereceria um cargo de ministro da cultura no governo do PT, para o Diogo Mainardi. Tudo pago, casa em Veneza, prometeria até passar para DVD, e lançar nas americanas.com, seu único filme, não lembro o nome. Ainda bem que não tenho dinheiro!
Tive esse desejo vendo o Ed Motta no comercial de natal do shopping. Uma vez, li uma entrevista do cantor/conhecedor de vinhos/gourmet/defensor do slow food, em que ele dizia que não aprendeu nada na escola, por isso parou de frequentá-la. Só esqueceu de dizer que se não fosse ela, a escola, não iria nem conseguir ler os rótulos dos vinhos que bebe. Ele é contra fast food, instrumentos eletronicos com chips, gosta de HQ e acha que é fino. Daí, vocês podem imaginar minha cara de surpresa ao vê-lo no comercial de natal de uma rede de shoppings, cantando, segurando uma estrelinha na mão, sorrindo sem graça e fazendo láláláralálá. Não tenho nada contra propagandas de natal e shoppings, aliás, os outros artistas estão completamente adequados ao papel que lhe deram no comercial. Mas o Ed? Justo ele que é chique, usa boina e colete?
Outro dia fiz minha primeira incursão (do ano) ao mundo natalino dos shoppings, com toda a família. Primeiro, passamos pelas lojas de brinquedo para ver a nave starwars que o Nico quer, ainda não sabe direito, do papai noel. O shopping estava bem cheio, coisas da classe média profissional ávida por licores de amarula. Vou para um lado, longe do papai noel, porque o Joca não gosta de “adultos fantasiados”. Sinceramente, o que mais me diverte nesses dias, é ver o mar de mulheres com vestidos, batas e blusas, com estampados coloridos e geometricos, todos iguais, variações de triângulos daqui, uma corzinha um pouco diferente dali, mas todos iguais que a moda deu para elas. Gosto de reparar na cara de única que cada uma consegue fazer, mesmo vestindo uma coisa que tem de penca a sua volta. Tem umas que fizeram um curso de chique presencial e amarram o cabelo com luzes num rabo de cavalo alto, um brincão de argola grosso e ouro branco, uma bolsona do lado. Aliás, a bolsona prateada (ou dourada) é outro item obrigatório para compor o look “o melhor dos iguais” atual das mulheres.
Passo em frente da Kopenhagen e brinco comigo mesmo da famigerada brincadeira de “um dia”. Um dia eu ainda compro aquele panetone, aquela trufona, aquela caixa de bombons, um dia!
Adoro essa época! E não há conta para pagar, nota para entregar, prova por fazer, que estrague essa alegria atávica que sinto no ar, no meu ar ao redor de mim, que faz meu espírito piscar, acender e apagar, alternando esperança e realidade, futuro e passado, fim e começo.


feliz natal!

2 comentários:

Julieta de Toledo Piza Falavina disse...

Cleido,

Indicaram-me o seu blog, e tenho lido sempre que posso. Gosto muito do seus textos.Parabens.
Julieta

estou em QAP disse...

muito bom, Cleido!
Ótimo texto!
beijos, Sandra