16.12.10

Eu Sou uma Pessoa Má

Acredito no poder da infância como formador da psiquê humana. Eu acredito, não tanto quanto os psicanalistas, mas bem mais que os católicos fundamentalistas. Por isso, quando era pequeno, muito da moral que me moldou, veio dos contos de fadas, das fábulas e, principalmente, daquelas historinhas-lendas-quase-urbanas. Sabe aquela do mendigo que pede esmola no meio da estrada para um viajante e, depois, descobrimos que era Jesus disfarçado? E que tudo não passava de um teste de caráter em que alguns eram aprovados, mas a maioria se ferrava de biroquinha, por conta da aparência desleixada do filho do criador?
Esta historieta tem guiado meu viver, só que, no meu caso, eu não sou o viajante. Também estou mais para capetão do que para Jesus. Mas o esquema é o mesmo, dou muita corda, finjo de bobo e deixo as pessoas se enrolarem. Às vezes, libero tanta corda, que o(a) gaiato(a) pensa até que é livre e sai para passear pelo mundo, porém, justo quando está prestes a tomar um dry martini na Riviera, apareço e puxo tudo de novo e trago a vítima para bem perto, só para saborear sua cabeça ainda viva.
Outro dia mesmo, minha ex-coordenadora da minha ex-escola do inferno, entrou na sala dos professores e apresentou todos os professores para um casal que queria colocar seu pequeno rebento naquela sucursal de Leviatã. Apresentou todos os professores e me pulou, ignorando minha existência. Coitadinha, pobre criatura sem consistência. Eu, que já desconfiava que a única sigla em educação que a pequena miss balzac sunshine conhecia era E.V.A., tive certeza que nem um pouquinho de bom senso o ser possuia. E fiquei pensando, mocinha tão bonitinha por que será que ainda não arrumou ninguém? E lembrei daquele ditado italiano: por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento. E fiquei rindo por dentro. Ela me ignorando e eu pensando nas suas entranhas recheadas de Rhizopus stolonifer.
Eu sou mau e nenhuma religião me acalma. Não sou daqueles que frequentam missa ou culto, para ver se conseguem manter sob controle, o rio de lava e destruição que insiste em se formar no meio do meu coração das trevas. Eu mato formiguinhas, a cada quinze dias, na pia do meu banheiro. Eu sou uma pessoa má. Eu e o Padre Marcelo. A diferença é que o coitado vai acordar no inferno e pensar que chegou ao paraíso bem num dia em que quebrou o ar condicionado. Eu não, eu sei o que me espera como consequência de meus atos.
Não se iludam com minha aparente bondade, paciência e compreensão com as vicissitudes alheias. Eu sou uma pessoa má. E cobrarei, no momento oportuno, cada nano-gota da esmolinha que um dia me recusaram à beira do caminho.

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